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Calcular o IMC é suficiente para saber se tenho um peso saudável?

22 Mar 2024 - 09:33
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Calcular o IMC é suficiente para saber se tenho um peso saudável?

Na dúvida sobre se um determinado peso é considerado saudável, há quem recorra de imediato à popular fórmula do Índice de Massa Corporal (IMC), um cálculo, que relaciona o peso e a altura. Mas será que o IMC é suficiente para sabermos se temos um peso saudável? Todas as pessoas beneficiam do cálculo deste índice? 

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O que é o IMC? Como se calcula?

No site do Serviço Nacional de Saúde (SNS), explica-se que o Índice de Massa Corporal (IMC) é um cálculo importante no diagnóstico da obesidade, “obtido dividindo o peso pelo quadrado da estatura”, ou seja, o “IMC = Peso (kg) / Altura² (m)”.

Segundo um texto informativo dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos da América (CDC, na sigla inglesa), “um IMC elevado pode indicar um nível elevado de gordura corporal”. 

Por permitir, “de uma forma rápida e simples”, indicar “se um indivíduo adulto tem baixo peso, peso normal ou excesso de peso”, o IMC “foi adotado internacionalmente” para ajudar a classificar a obesidade, refere-se no Programa Nacional de Combate à Obesidade da Direção-Geral da Saúde (DGS).

Ainda assim, num texto da Escola de Saúde Pública de Harvard, considera-se que o IMC até “pode ser mais útil para prever a saúde futura do que a atual”. 

Isto porque, à partida, “quanto mais elevado for o IMC, maior será o risco de desenvolver uma série de doenças associadas ao excesso de peso”, tais como: “diabetes”, “artrite”, “doença hepática”, “vários tipos de cancro”, “hipertensão”, “colesterol elevado” e “apneia do sono”, destaca-se no mesmo texto. 

A grande questão é: O IMC, por si só, indica, para todas as pessoas, se um determinado peso é saudável?

Um IMC acima do recomendado indica sempre um peso não saudável?

A resposta é não. De facto, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), por norma, considera-se que há excesso de peso quando o IMC é igual ou superior a 25 e que há obesidade quando o IMC é maior ou igual a 30

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Contudo, frisa a Escola de Saúde Pública de Harvard, “tal como acontece com a maioria das medidas de saúde, o IMC não é um teste perfeito”. Por exemplo, acrescentam, “os resultados podem ser afetados por uma gravidez, ou por uma massa muscular elevada, e pode não ser uma boa medida de saúde para crianças ou idosos”. 

Por esse motivo, os CDC são claros na sua posição: “O IMC deteta categorias de peso que podem levar a problemas de saúde, mas não diagnostica a gordura corporal ou a saúde de um indivíduo”.

Isto porque, este índice “não permite distinguir a causa do excesso de peso”, aponta a DGS. Por outras palavras, refere-se num texto da Fundação Nacional do Coração da Nova Zelândia, o IMC é incapaz de medir “a quantidade de gordura e de músculo” (de forma individual) e “onde está localizada a gordura no corpo”.

Que outros fatores ter em conta além do IMC?

Conforme um texto do Sistema Nacional de Saúde britânico (NHS, na sigla inglesa), para avaliarem se um determinado peso é saudável, os profissionais de saúde têm em conta outros fatores, além do cálculo do IMC. Segundo a evidência atual disponível, existem outros cinco fatores importantes:

  • Perímetro abdominal

A DGS destaca um importante fator que não é necessariamente tido em conta quando se calcula o IMC: a gordura visceral.

“Existe evidência científica que sugere haver uma predisposição genética que determina, em certos indivíduos, uma maior acumulação de gordura na zona abdominal, em resposta ao excesso de ingestão de energia e/ou à diminuição da atividade física”, escreve-se no Plano Nacional de Combate à Obesidade. 

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Esta gordura, adianta-se, “está diretamente relacionada com o desenvolvimento de insulinorresistência, responsável pela síndrome metabólica associada à obesidade”.

Por esse motivo, destaca o SNS, em prática clínica, o diagnóstico da obesidade faz-se, não só através do IMC, mas também de acordo com o cálculo do perímetro abdominal.

A DGS explica que “é indicador de risco muito aumentado e requer intervenção médica” um perímetro da cintura igual ou superior a 88 cm na mulher e um perímetro da cintura igual ou superior a 102 cm no homem.

O excesso de gordura visceral está associado ao risco aumentado de “diabetes tipo 2, dislipidemia, hipertensão arterial, disfunção endotelial, síndrome do ovário poliquístico, doença coronária, doença vascular cerebral e morte”, frisa a DGS, sendo que a ligação a estas doenças “está dependente da gordura intra-abdominal e não da gordura total do corpo”.

  • Idade

Segundo a Fundação Nacional do Coração da Nova Zelândia, o IMC não é um índice adequado para crianças e adolescentes até aos 19 anos. Entre os 2 e os 19 anos “devem ser utilizados gráficos de crescimento”.

Por outro lado, é importante ter em conta que, nos idosos, “ter um IMC mais elevado pode ser útil” para proteger esta população “contra a desnutrição ou contra uma queda”. 

Nesta faixa etária, aponta a DGS, “o perímetro abdominal é uma medida antropométrica mais importante do que o IMC, para avaliar o risco de mortalidade”.

  • Massa gorda versus massa muscular

“O IMC é menos exato em adultos muito musculados e atléticos, porque o músculo pesa mais do que a gordura”, adianta Fundação Nacional do Coração da Nova Zelândia. 

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Assim, atenta o NHS, alguns atletas “podem ter um peso saudável, apesar de o seu IMC ser classificado como obeso”.

  • Etnia

O texto da Escola de Saúde Pública de Harvard explica que “as atuais definições de IMC para o excesso de peso ou obesidade foram baseadas, em grande parte, em populações brancas”. 

Contudo, nota-se, “a composição corporal, incluindo a percentagem de gordura corporal ou a quantidade de massa muscular, pode variar consoante a raça e o grupo étnico”.

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O NHS dá o exemplo dos adultos de origem sul-asiática, que “podem ter um risco mais elevado de alguns problemas de saúde, como a diabetes, com um IMC de 23, que é normalmente considerado saudável”.

Por outro lado, menciona a Fundação Nacional do Coração da Nova Zelândia, “as pessoas que são Maori [um povo polinésio da Nova Zelândia] têm frequentemente uma maior densidade óssea e mais massa muscular”, por isso, “neste grupo, o IMC saudável é mais elevado”.

  • Gravidez

Durante a gravidez, o IMC não é um bom indicador. Assim, o NHS aconselha as grávidas a consultarem um profissional de saúde, caso estejam preocupadas com o seu peso.

Em suma, apesar do cálculo de o IMC ser útil no diagnóstico de excesso de peso e obesidade, não pode ser o único fator tido em conta neste contexto. Isto é, um IMC elevado, por si só, não indica um peso não saudável.

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22 Mar 2024 - 09:33

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